Pondera, Pandora, como se isto fosse um diário

Pondera, Pandora, como se trabalhasse para rever-se, inteira, neste diário

Um ou dois aforismos
Não sei explicar o motivo, mas sempre ouvi com um misto de curiosidade e desconfiança as pessoas que gostam de dar opinão introduzida mais ou menos assim: "como diz o poeta" ou "e como disse o outro". Apesar disso, coleciono alguns aforismos, cujos autores eu prefiro indicar a deixar no ar.

Teixeira de Pascoaes, por exemplo, tinha uns fantásticos: "Amar é dar à luz o amor, personagem transcendente"; "Só os olhos das árvores vêem a esperança que passa"; "Existir não é pensar; é ser lembrado"; "A indiferença que cerca o homem demonstra a sua qualidade de estrangeiro"; "Vivemos como num estado de transmigração para a nossa fotografia".

Ele viveu em Amarante! Pena que não se respire o mesmo ar nos dias de hoje...

O aforismo dele de que eu mais gosto, no entanto, entre os que saíram publicados pela Assírio & Alvim, traz o seguinte:

"A seara não pertence a quem a semeia, pertence ao bicho que a rouba e come".

Sendo homem da terra, do chão, dos cheiros da natureza, muito embora culto, eu só posso concordar. Para um espírito muito suave - a não ser quando sente-se desafiado -, esse tipo de sabedoria condensada é sem dúvida ensinamento.


terça-feira, 11 de outubro de 2011

Grávida de tudo



Quem já assistiu ao filme Denise está chamando (Denise calls up, Hal Salwen, 1995)?

Hoje senti saudade de ver uma protagonista naive que não é mostrada ou como boba ou como exótica, mas como a diferença que inaugura qualquer coisa de proveito.

Passa-se dessa maneira mesmo, eu acho; quer dizer, as pessoas no princípio têm uma dose saudável de ingenuidade, que permite irem em frente em projetos "pouco recomendáveis".

No caso dela, Denise, melhor ainda. Ela simplesmente não se importa em exercer o papel que exerce no grupo. Ela é de longe a única que dá sentido ao grupo. Um pequeno grupo nasce da ação dela. E Denise usa uns vestidos engraçados, que dão charme, é histriônica e o principal é que contraria a onda de modernidade das pessoas pertencentes à mesma faixa etária em que está. Não passa horas ao telefone e ao computador, para depois esconder-se, com medo de encarar a rua e, nela, quem estava do outro lado do fio do telefone.

O medo ou enlouquece ou paralisa. Eu admiro a Denise e gostava de sentir medo menos vezes.

PS - havia esquecido de dizer que o filme tem Muddy Watters na trilha sonora.


Um objeto de consumo. Meio piroso o de cima, mas com estilo.

Punha num canto, ao contrário desse da foto, que alguém achou bonito no meio da sala.

Será que dormia melhor? Será que voltava a ter gosto por dormir na sala?

Depois do Átila, estar no sofá da sala naquele embalo dorme-não-dorme é recurso e não escolha.




PS - Bobagem, enfim: sofá com pé de metal? Madeira, pra mim, dá também o ar de estabilidade que fica bem num objeto em que a gente vai sentar.

"Eu não sei dançar tão devagar, pra te acompanhar"



O que a Marina Lima quer (ou queria) com essa música???




Com essa letra de música?




Claro que Não sei dançar tem outros versos, imagens até interessantes ("e tudo que eu posso te dar é solidão com vista pro mar", grifo meu), mas no geral termino de ouvir - conheço a música há tempos -, e me parece apenas... lamento.




Vai ver é isso, todo o mundo se lamenta de vez em quando, pra ver se convence um ombro amigo, se ganha um admirador. Mariana Alcoforado lamentou-se nas cartas ao francês! E eu as estudei...




De qualquer modo, gosto do que está no finalzinho da canção: "se você quiser, eu posso tentar".




E quem era mesmo que cantava alguma coisa parecida, algo como "eu não te completo, você não me basta, mas é lindo o gesto de se oferecer"?




São os Paralamas do Sucesso, de novo!




Gosto muito dos Paralamas. Tive um post que terminava com dois versos deles, mas a falta de habilidade me fez apagar o conteúdo. Caramba.




Pra encerrar sem concluir, aqui vão eles, os versos, mais uma vez, pra lembrar Herbert, Bi e Barone:




"Novas maravilhas pra se admirar

Não me venha com a velha dor".