Pondera, Pandora, como se isto fosse um diário

Pondera, Pandora, como se trabalhasse para rever-se, inteira, neste diário

Um ou dois aforismos
Não sei explicar o motivo, mas sempre ouvi com um misto de curiosidade e desconfiança as pessoas que gostam de dar opinão introduzida mais ou menos assim: "como diz o poeta" ou "e como disse o outro". Apesar disso, coleciono alguns aforismos, cujos autores eu prefiro indicar a deixar no ar.

Teixeira de Pascoaes, por exemplo, tinha uns fantásticos: "Amar é dar à luz o amor, personagem transcendente"; "Só os olhos das árvores vêem a esperança que passa"; "Existir não é pensar; é ser lembrado"; "A indiferença que cerca o homem demonstra a sua qualidade de estrangeiro"; "Vivemos como num estado de transmigração para a nossa fotografia".

Ele viveu em Amarante! Pena que não se respire o mesmo ar nos dias de hoje...

O aforismo dele de que eu mais gosto, no entanto, entre os que saíram publicados pela Assírio & Alvim, traz o seguinte:

"A seara não pertence a quem a semeia, pertence ao bicho que a rouba e come".

Sendo homem da terra, do chão, dos cheiros da natureza, muito embora culto, eu só posso concordar. Para um espírito muito suave - a não ser quando sente-se desafiado -, esse tipo de sabedoria condensada é sem dúvida ensinamento.


segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Percalços que fazem história no cinema

Vou logo remetendo para um endereço virtual com uma análise muito caprichada de um dos filmes que passo a relembrar.

Pareceu-me que o autor do comentário que assinalo, Ruy Gardnier, escolheu uma abordagem bastante boa, falando da maneira de filmar e da relação do filme com filmes posteriores, quer dizer, com aqueles que o utilizaram num detalhe ou num elemento importante:


A minha recapitulação é bem mais modesta, por força da minha formação, e tem que ver com o dia de hoje.

Depois de ouvir à hora do almoço uma notícia mais ou menos curta sobre troca de prisioneiros entre Israel e Palestina, lembrei de filmes bonitos a que já assisti e que provinham do Oriente.

Pensei em Onde fica a casa do meu amigo? (Khane-ye doust kodjast?, Abbas Kiarostami, 1987) e em A noiva síria (The Syrian Bride, Eran Riklis, 2004).  Um deles iraniano, o outro, produção conjunta de Israel, França e Alemanha. O iraniano recebeu prêmio no Festival de Locarno.

O 1º apela mais ao nosso sentido de proteção, às nossas idiossincrasias sobre o crescimento pessoal, pois na trama há um menino ainda pequeno que precisa resolver um mal entendido com o professor e com um colega, antes que seja recusada definitivamente a sua permanência na escola.

Para isso, ao som de um instrumento que é capaz de ser uma espécie de pandeiro (mil perdões aos que entendem de música, mas ainda não consigo dar a informação com precisão), vai a pé até outro povoado, com dificuldade e sem o conhecimento da mãe, que aliás conta com ele para tarefas domésticas que devem ser realizadas àquela mesma hora.

É sofrido, mas é suposto ser igualmente engraçado, eu acho...

Uma única turma muito reduzida, um professor severo, se considerarmos o caso de acordo com nossos parâmetros ocidentais, uma mãe exigente, um menino distraído e afinal responsável!

São aquelas passagens a que nos sujeitamos ou somos realmente obrigados, para aprender enquanto observamos os mais velhos. Descobrimos muitas coisas, comparamos, ganhamos uns traumas e com sorte alguma sensação de alívio. É a nossa bagagem para andar livremente, sejam quais forem os caminhos. É o nosso bilhete, nosso passaporte. São travessias, portas de entradas para mundos regidos por lógicas que até então desconhecemos.

Sem querer, aderimos ou a uma ou a outra lógica de funcionamento e pronto. Os anos que serão gastos a colocarmos em prática, aparando arestas às vezes, sem a menor introspeção, na maior parte dos casos.  

O menino se safa. O filme passa a ser um daqueles filmes queridos.

Eu, a quem as ideias sobre educação são em especial bem vindas, pois se trata da minha opção de vida, nada menos do que isso, não pude deixar de me agarrar à lembrança desse filme. 

E o 2º? A noiva síria.  

Tenho uma lembrança bem mais vaga, confesso. Pretendo ver de novo e, só daí, postar alguma impressão renovada.

Se saí do cinema, há 5 anos, com a sensação agradável de ter acabado de assistir a um filme recheado de temas pra fazer pensar e sentir, tenho a certeza de que alguma coisa de interessante se vai processar aqui dentro, de novo.