Pondera, Pandora, como se isto fosse um diário

Pondera, Pandora, como se trabalhasse para rever-se, inteira, neste diário

Um ou dois aforismos
Não sei explicar o motivo, mas sempre ouvi com um misto de curiosidade e desconfiança as pessoas que gostam de dar opinão introduzida mais ou menos assim: "como diz o poeta" ou "e como disse o outro". Apesar disso, coleciono alguns aforismos, cujos autores eu prefiro indicar a deixar no ar.

Teixeira de Pascoaes, por exemplo, tinha uns fantásticos: "Amar é dar à luz o amor, personagem transcendente"; "Só os olhos das árvores vêem a esperança que passa"; "Existir não é pensar; é ser lembrado"; "A indiferença que cerca o homem demonstra a sua qualidade de estrangeiro"; "Vivemos como num estado de transmigração para a nossa fotografia".

Ele viveu em Amarante! Pena que não se respire o mesmo ar nos dias de hoje...

O aforismo dele de que eu mais gosto, no entanto, entre os que saíram publicados pela Assírio & Alvim, traz o seguinte:

"A seara não pertence a quem a semeia, pertence ao bicho que a rouba e come".

Sendo homem da terra, do chão, dos cheiros da natureza, muito embora culto, eu só posso concordar. Para um espírito muito suave - a não ser quando sente-se desafiado -, esse tipo de sabedoria condensada é sem dúvida ensinamento.


terça-feira, 15 de novembro de 2011

O que é amor, que se manifesta devagar, pelos fios de telefone e pelas bibliotecas


E pensar que houve um Padre, no séc. XVIII, em Espanha, que se dedicou a investigar o amor e a escrever sobre ele com tal propriedade que permitia discordar de filósofos antigos e começar sentenças por um singelo "Mi sentir es que estas voces nada significan". 

Esse homem foi Benito Jerónimo Feijoo. 

Estudei uma parte pequena do legado dele, quando estava atenta à história de Sor Juana Inés de la Cruz, religiosa do México. 

Voltei a ouvir falar dele em Amarante, há cerca de 15 dias, quando a Profª que orientou o meu trabalho no Mestrado veio à biblioteca da cidade para mostrar uma visão peculiar do poeta Teixeira de Pascoaes.

No salão à esquerda de quem entra naquele espaço público, havia mais ou menos umas 30 pessoas, eu creio, e poucas me conheciam. 

Uma delas, certa vez, chamou-me ingênua porque eu esperava ocupar um cargo público aqui, sem conhecer figura ilustre que me recomendasse.

Por isso e pela troca intelectual e afetiva que, graças a Deus, existe entre a Profª Maria Luísa Malato e eu, foi muito saboroso ouvir que parte do raciocínio que ela iria seguir para discursar sobre Teixeira de Pascoaes, na cidade de Teixeira de Pascoaes, tinha que ver com uma pergunta minha, feita há mais de um ano.

Faláramos a respeito do significado da palavra "energia" para o Pe. Benito Feijoo, já que ele a utilizara para criticar Sor Juana Inés de la Cruz.

Enfim, às vezes as coisas tardam, mas não falham!




44. Tres especies de amor distingo: Apetito puro, amor intelectual puro, y amor patético. El apetito puro, que con alguna impropiedad se llama amor, se termina a aquellos objetos, que deleitan los sentidos externos, como al manjar regalado, al olor suave, a la música dulce, al jardín ameno. Este amor se excita precisamente por la experiencia, que tiene el alma de la sensación grata, que le causan estos objetos. La alma naturalmente apetece, y se inclina al gozo de lo que la deleita: y así no es menester más requisito para excitar en ella ese amor, que la experimental representación de la sensación grata, que causa tal, o tal objeto.


45. El amor intelectual puro viene a ser el que los Teólogos Morales llaman apreciativo, a distinción del tierno. Demosle aquél nombre, porque es mero ejercicio del alma racional, independiente, y separado de toda conmoción en el cuerpo, o parte sensitiva. Este se excita por la mera representación de la bondad del objeto. El alma ama todo lo que se le representa bueno, sin ser necesaria otra cosa más que el conocimiento de la bondad. Así ama, aun separada del cuerpo: y el amor intelectual puro, de que hablamos, realmente en cuanto al ejercicio, es semejante al que tiene el alma separada.


46. El amor patético es el propio de nuestro asunto. Este es aquel afecto fervoroso, que hace sentir sus llamaradas en el corazón, que le inquieta, le agita, le comprime, le dilata, le enfurece, le humilla, le congoja, le alegra, le desmaya, le alienta, según los varios estados en que halla el amante, respecto del amado: y según los varios objetos, que mira, ya es divino, ya humano, ya celeste, ya terreno, [370] ya santo, ya perverso, ya torpe, ya puro, ya ángel, ya demonio.