Pondera, Pandora, como se isto fosse um diário

Pondera, Pandora, como se trabalhasse para rever-se, inteira, neste diário

Um ou dois aforismos
Não sei explicar o motivo, mas sempre ouvi com um misto de curiosidade e desconfiança as pessoas que gostam de dar opinão introduzida mais ou menos assim: "como diz o poeta" ou "e como disse o outro". Apesar disso, coleciono alguns aforismos, cujos autores eu prefiro indicar a deixar no ar.

Teixeira de Pascoaes, por exemplo, tinha uns fantásticos: "Amar é dar à luz o amor, personagem transcendente"; "Só os olhos das árvores vêem a esperança que passa"; "Existir não é pensar; é ser lembrado"; "A indiferença que cerca o homem demonstra a sua qualidade de estrangeiro"; "Vivemos como num estado de transmigração para a nossa fotografia".

Ele viveu em Amarante! Pena que não se respire o mesmo ar nos dias de hoje...

O aforismo dele de que eu mais gosto, no entanto, entre os que saíram publicados pela Assírio & Alvim, traz o seguinte:

"A seara não pertence a quem a semeia, pertence ao bicho que a rouba e come".

Sendo homem da terra, do chão, dos cheiros da natureza, muito embora culto, eu só posso concordar. Para um espírito muito suave - a não ser quando sente-se desafiado -, esse tipo de sabedoria condensada é sem dúvida ensinamento.


domingo, 27 de novembro de 2011

Rodolfo Amoedo (1857-1941)





A música do filme 50/50



Desculpa lá, gente!

Eu tinha dito que a trilha/banda sonora do filme 50/50 não apela para o drama, mas a música que ficou na minha lembrança emociona, sim... Lendo os comentários do YouTube, dá pra perceber que muita gente se comoveu na cena em que essa música entrou.

De qualquer maneira, eu também havia escrito que o filme faz rir e faz chorar. 

Com essa, eu chorei! Até molhar o lenço todo.

50/50

Há uma semana assisti ao filme 50/50 numa sala de cinema da cidade do Porto.

É uma produção deste ano, baseada na história verídica do roteirista/argumentista Will Reiser.



Gostei muito. Empatia conseguida.

O ator que teve a responsabilidade pelo papel principal (Joseph Gordon-Levitt) usa uma expressão que combina muito bem com (aquele que deve ser) o estado de ânimo do doente recém-informado sobre uma doença grave como o câncer/cancro. Sorri de espanto, recolhe-se e depois vai lentamente absorvendo a tristeza e o pânico que as pessoas mais chegadas sentem.

As etapas nas relações pessoais, no tratamento médico, nas expectativas mais íntimas, tudo vai surgindo a seu tempo no filme, enquanto o espectador chora e ri. Chora e ri mesmo.

Do que eu mais gostei?

Da trilha sonora que não se esforça por dar um tom de desânimo e de drama ao que vamos vendo na tela. Ainda vou ouvir as músicas de novo, para descobrir qual é esta que ecoa agora na minha cabeça.

Da terapeuta (Anna Kendrick), muito novinha e muito aberta, que convence. Os toques que ela dá no braço do paciente, para estabelecer um contato mais caloroso, são gozados. Ele ao princípio implica, mas acaba por reconhecer como tentativas válidas.

Da cena em que ele, o paciente, claramente inverte posições e corrige a terapeuta. Porque também ele age de maneira muito genuína quando diz o que o incomoda. E ela não o leva a mal. Aproveita a dica de limpeza, por assim dizer, e evolui na intimidade que é suposto estabelecer com o paciente.

Do melhor amigo, um tipo cujos "defeitos" qualquer um apontaria depressa, o que não o torna menos amigo e menos engraçado. E o ator tem uma voz, uma entonação e uma postura corportal divertidíssimas! O ator, a propósito, é Seth Rogen.

Da pose da mãe, atriz mais experiente (Anjelica Huston), que sensibiliza muito mediante as razões de mãe e, de novo, as expressões faciais. 

Do pai (Serge Houde), que não entende o que se passa e mesmo assim é levado a acompanhar o filho e a esposa.

Da casa do protagonista.... e da disponibilidade dele para sair de dentro dela às vezes, mesmo que estivesse sem força física sobrando.