A HQ/BD Adeus Tristeza, de Belle Yang, conta as idas e vindas da família do pai dela, entre Taiwan, China e Estados Unidos da América. A edição que conheço é da Companhia das Letras e foi publicada em 2012. O original é pouco mais antigo do que isso, data de 2010. Eu li a HQ em novembro ou dezembro do ano de 2013, reli agora, passado um ano.
Agrada-me mostrar, em algumas linhas, o modo como a autora assume o comando da narrativa, mostrando assim como uma autobiografia pode recompor elos importantes com o núcleo familiar. Não sei se em toda e qualquer autobiografia existe esse compromisso de antemão, isto é, não sei se ele existe por definição, mas para mim é um dos elementos que se pode ver com carinho no livro em questão.
O anúncio das intenções da narradora é feito da seguinte forma: "Você pode me contar mais da nossa família na Manchúria, Baba?” (p.13).
O anúncio das intenções da narradora é feito da seguinte forma: "Você pode me contar mais da nossa família na Manchúria, Baba?” (p.13).
Prosseguindo nessa linha, ela afirma: “Eu amo as histórias de baba. Eu quero poder dar voz às pessoas que foram esquecidas. Ovo Podre me calava com os punhos quando eu discordava. O governo chinês cala seus cidadãos com tanques. Eu tenho voz na América. Não vou jogar isso fora” (p.35).
E confessa-se, mais de uma vez: "Sinto muito que vocês tiveram que sofrer por mim" (p.66); “É, eu fui mimada” (p.182).
Questiona o pai, narrador da maior parte dos acontecimentos, “Baba, você teria saído de casa se soubesse que a viagem seria tá difícil?” (p.186).
E eles avançam na reflexão proposta por ela: “Teria deixado a Manchúria se soubesse que minha jornada seria tão difícil? Não, certamente que não!”. “Baba, e se você soubesse que teria uma bela família, e que acabaria na América, vivendo tranquilamente perto do mar?”. “Aí a resposta é SIM!”. (p.188).
Quem vai acompanhando o modo como ela e a mãe ouvem esse pai, sabe que é coerente que ela reconheça: “Não é tarde demais para eu conhecer meu pai” (p.195); “Eu nasci em Taiwan enquanto as pessoas no continente passavam fome” (p.226)
Ir buscar a história dos seus ancestrais não é ir longe demais, é ir até o lugar em que um tipo de verdade está, se a relação com o pai e consigo mesma ajuda a "apagar a tristeza da vida de Baba” (p.242)